Artemis
Individualidade

Sou quem eu sou
E sei quem sou
Posso cuidar de mim mesma em qualquer circunstância
E posso deixar os outros cuidarem de mim
Posso optar
Não existe autoridade mais elevada do que a minha
Meu poder de discernimento é finamente aguçado
Tenho autonomia
Estou livre da influência da opinião dos outros
Sou capaz de separar o que precisa de separação
Assim uma decisão lúcida pode ser alcançada
Penso por mim mesma
Ajusto a mira e aponto o arco
Minhas setas atingem sempre o alvo

Mitologia:

No mito grego Ártemis aparece como filha de Zeus e Leto, que tinha sido amaldiçoada por Hera para não poder parir em nenhum lugar onde os raios solares incidissem. Leto foi ajudada pela sua irmã Asteria, que se transformou em uma ilha mágica, Ortigia, que flutuava sob a superfície do oceano e livre da maldição. Ártemis nasceu com facilidade, mas como seu irmão gêmeo custava a nascer e sua mãe sofria dores terríveis. Então Ártemis ajudou a trazer Apollo ao mundo. Por isso é também conhecida como a Parteira Amorosa, “Aquela que trazia a luz”, sendo assim a protetora dos partos. Quando Ártemis era ainda criança, seu pai Zeus lhe ofereceu quaisquer presentes que ela quisesse. Ártemis pediu para jamais precisar casar, ter mais nomes do que seu irmão, mas ter arco e flechas como ele, poder usar sempre uma túnica curta para correr à vontade nos bosques, ter como companhia sessenta ninfas do oceano e trinta dos rios que cuidassem dos seus animais, reger a Lua e a luz, ter o domínio das montanhas e florestas e o direito de fazer sempre suas próprias escolhas.

Uma das mitologias a considera a Senhora dos Animais da civilização neolítica, representada cercada de animais e alada, com desenhos de peixes e espirais na sua túnica, símbolos do fluxo de energia criativa. Era a Mãe da Floresta, invocada por caçadores e viajantes que eram por ela protegidos, desde que eles não matassem fêmeas prenhas e filhotes, não caçassem por esporte ou distração, nem desperdiçassem recursos e riquezas naturais.

Das montanhas de Anatólia, seu culto espalhou-se para África, Sicilia, Europa e Grécia. Sua estátua como a Deusa dos Mil Seios, no templo de Éfeso (construído em 320 a.C. e destruído mil anos depois), era uma das sete maravilhas do mundo antigo e simbolizava o instinto de gerar, viver e morrer.

Seus inúmeros títulos se referiam às suas funções, como regente das florestas, dos animais, caça lagos, pântanos, rios, mares, campos, clareiras, madrugada, Lua, luz, partos, cura, proteção. Ela regia as fases da vida, as transições e dimensões das experiências femininas, (infância, adolescência, gravidez, amamentação, menopausa, solidão, morte), protegendo-as das ações ou interferências masculinas.

 

Atributos:

A natureza de Ártemis é complexa e contraditória: ela é virgem, mas cuida das crianças e auxilia nos partos; é caçadora e ao mesmo tempo protetora dos animais, é guerreira e rainha das Amazonas, mas também é A Mãe dos Mil Seios, senhora da fertilidade. Simboliza a dualidade do bem e do mal, ora aparecendo como uma linda donzela, ora deusa vingativa, agindo como parteira amorosa ou feroz guerreira, protetora das crianças sem nunca ter sido mãe, cuidando da vida ou promovendo a morte.

Fiel a si mesma. Protetora dos partos, das crianças e dos animais. Atiradora infalível. Acerta o alvo. Não se submete ao domínio dos homens. Rejeita o casamento por ver como uma prisão. Maternidade indesejada por ver como perda de liberdade.

No físico, seus atributos dão poder a um corpo instintivo, pulsante, que vibra liberdade. Artemis é correr, é movimento, é brincar e usar o corpo para sentir-se livre.

Em desequilíbrio pode gerar distanciamento emocional dos seus objetivos de vida, competição na vida profissional, mais foco nos objetivos e projetos do que na vida afetiva e fúria. No campo físico o desequilíbrio destes aspectos, de mais ou de menos podem gerar deficiências de hormônios femininos, como ausência do fluxo menstrual, pêlos no corpo, infertilidade. A vaidade dos outros pode a deixar muito irritada. Seu amor à liberdade pode a levar a rejeição da maternidade, união ou profissão; repudiar valores da sociedade convencional; escolher a solidão, não aceitar a sociedade que valoriza a aparência e a moda.

 

Reflexão como arquétipo feminino:

Nossa “animalidade”, com seu acúmulo de anos de sabedoria, esta viva em nossos corpos humanos e devemos estar em contato com ela, enraizadas nela para sentirmos nosso poder e o direito de existir, no aqui e agora. Ártemis está ligada ao nosso direito de ser, de ocupar um espaço sabendo o que queremos, sem vergonhas ou medos. Quantas vezes escondemos nosso poder e beleza por medo de incomodar alguém? Quantas vezes nos mascaramos para disfarçar o que somos?

Se, inspiradas pelo poder de Artemis, lembrarmos o quanto é importante nos defendermos se somos ameaçadas e conquistarmos nossa livre expressão, o “amor” deixará de fazer vítimas e passará a fazer mais amantes.

Com Ártemis aguçada dentro de nós, sentiremos qualquer perigo que ameace nossa inteireza. Ela diz que é preciso antes sentir a batida da natureza, dos ursos, dos cervos, dos esquilos, dos lobos, a batida que sobe da Terra até nossos poderosos corações. Forte, claro, delicioso. É isto que quer dizer “estarmos de bem conosco e nossa feminilidade”. Saber quem somos e jogar fora os padrões estereotipados.

A mulher Ártemis é prática, atlética, aventureira. Aprecia a cultura física, a solidão, a vida ao ar livre e os animais. Dedica-se à proteção do meio ambiente, aos estilos de vida alternativos e às comunidades de mulheres. A cidade não é “sua praia”. Quando ela é encontrada no meio urbano, ela é tímida, reservada. Curtir festas e multidão não é algo que lhe interessa. A energia vigorosa não é mental, provém do seu corpo ágil e atlético, que adora envolver-se fisicamente.

Apta a viver perfeitamente bem sem os homens, é tipo de mulher que já nasce com fortes qualidades “masculinas”. A energia arquetípica desta deusa aflora com maior força na adolescência, quando poderá se identificar com as atividades e atitudes dos meninos.

Quando sentimos tudo nos nossos ombros, trabalho, família, tarefas; e aquela vontade de mandar tudo pra longe, é Ártemis falando. Não podemos simplesmente chutar o balde e ir embora. Mas também não podemos fazer de conta que está tudo bem. Ártemis reclama seu espaço, caso contrário seu corpo e sua saúde acabam punidos.

Artemis inspira individualidade para ajudá-la a concentrar-se em si mesma. Você tem estado demasiadamente a serviço dos outros sem certificar-se de que conseguiu o que necessita para si mesma? Há muito não tem um tempo ou um espaço só seu? Os limites da sua individualidade parecem difusos? Você sente que não tem direito a uma personalidade própria e coloca as necessidades dos outros em primeiro lugar? Quem é você? O que você quer?  Está na hora de ser você mesma. Está na hora de prestar atenção às vozes sussurrantes das suas próprias necessidades. Está na hora de resgatara si mesma, celebrar e fortalecer a pessoa que você é. A totalidade é alimentada quando você honra, respeita e dedica tempo a si mesma. Ela também pergunta como você pode esperar atingir quaisquer alvos se não tem um?

 

Sugestão de ritual:

Resgate a si mesma. A qualquer momento, em qualquer lugar, sozinha, ou na presença de pessoas às quais você entregou pedaços de si mesma. Sente-se, fique em pé ou deite-se com a coluna reta. Feche os olhos. Inspire profundamente e expire. Respire fundo outra vez, leve a atenção de sua respiração para seu útero, para o seu centro. Olhe para o seu corpo. Pergunte a si mesma se estão faltando pedaços. Tente abrir-se, refletindo, a fim de ter uma sensação, visão ou sentimento de onde estão esses pedaços que faltam. Por exemplo: você deu ao seu amante sua porção de alegria? Agora não consegue sentir-se alegre sem ele? Você deu aos seus filhos um pedaço generoso de si mesma, e agora que eles cresceram, sente-se perdida? Você deu as pessoas amadas sua porção de energia sexual, desejo e sensualidade e agora se sente sem estímulo? Chame esses pedaços de volta. Perceba, sinta ou visualize esses pedaços que faltam voltando para você. Deixe-os entrar no seu corpo outra vez, e, à medida que isso acontece, sinta-se ficar mais forte e mais viva. Agradeça às suas partes por retornarem, e abra os olhos. Seja bem-vinda!

Referências:
MARASHINSKY, A. S. O oráculo da Deusa: um novo método de adivinhação. São Paulo: Editora Pensamento, 2007.
BOLEN, J. S. As Deusas e a Mulher.
www.teiadethea.org
www.adrianatanesenogueira.org